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  • Foto do escritorCintia Almeida

Maternidade e carreira. É possível conciliar?

Atualizado: 30 de nov. de 2019

Tenho refletido bastante sobre o desafio que a maioria das mulheres enfrenta a partir da chegada dos filhos: conciliar maternidade e vida profissional.


Em tempos em que diversidade é a palavra da vez, ser acolhedor ao “diverso mais comum da humanidade”, a maternidade, é realmente fazer a diferença num país em que 45% das mulheres deixam seus empregos até 1 ano de vida do filho (por vontade própria ou do empregador, segundo a Robert Half). E que, apesar do empreendedorismo feminino ser um movimento em resposta à desigualdade de gênero, empresas lideradas ou fundadas por mulheres atraem, em média, metade dos investimentos comparadas às organizações fundadas por homens (BCG). Fica claro que há muito caminho a ser trilhado.


Os dados refletem algo triste: o fato de que, na maioria das vezes, a escolha é binária. Ou a mãe escolhe cuidar do filho pequeno e abre mão da vida profissional que costuma exigir uma alta dedicação de tempo, ou o contrário. Afinal, nem todas querem ou têm aptidão para empreender.

Falta acolhimento. Faltam ações concretas para que essa adaptação aconteça de fato. Falta empatia. Muitas vezes expressas em perguntas inseridas em conversas supostamente despretensiosas do tipo “você vai querer ter mais filhos?”. Não... Não pergunte isso na volta da licença maternidade. Muitas voltam ao trabalho fragilizadas nesse período de retomada e adaptação. A pergunta só vai trazer sensação de instabilidade, porque é quase como dizer: você pretende se ausentar por mais 6/7 meses?


Já ouvi relatos de colegas em que gestores da empresa onde trabalham declaradamente evitam contratar mulheres por causa do “risco maternidade”. Oi?! Risco maternidade?! E não são só gestores homens. Essa mentalidade também está nas mulheres. Por isso, o acolhimento vai muito, mas muito além de uma sala para amamentação e auxílio creche.


Nesse cenário, perde o mercado por abrir mão de profissionais, muitas vezes, altamente competentes. Perde a mulher que busca realização profissional e gostaria de conseguir conciliar esses dois lados extremamente importantes de suas vidas.

Exigir uma escolha, é bastante cruel. Óbvio, que essa “exigência” não é verbalizada nem declarada. É sutil. Acontece nas expectativas colocadas sobre os ombros delas (por elas mesmas, inclusive) e nas pequenas escolhas que precisam fazer no dia a dia. Sempre com a sombra “o que vão pensar?”, “vão atribuir ao fato de eu ter filho?”. Conheço mães que nem mencionam os filhos no ambiente de trabalho. Acreditam que acenderia um holofote sobre algo que as fragiliza. Triste. Como se ter filho desabonasse a dedicação ao trabalho e a competência profissional.


A maternidade desenvolve mais soft skills que muito treinamento de consultorias renomadas por aí. Posso assegurar. Nos faz crescer em características também importantes para o mundo corporativo.


Depois que me tornei mãe, adquiri habilidades bastante específicas. Sendo mãe do Heitor, cuja existência foi breve (intensos 3 dias), aprendi muito sobre resiliência, sobre ressignificar fatos e frustrações, sobre administrar conflitos, sobre autodomínio, sobre planejar e recalcular a rota, sobre escolher onde investir energia. Com Sofia, tenho aprendido sobre administração eficaz do tempo, sobre construir times multidisciplinares, sobre a importância do ócio criativo.


Antes deles, tinha uma visão diferente sobre o mundo, sobre as relações interpessoais. Não melhor, nem pior. Apenas diferente. Porém, negar a existência dos meus filhos no meu currículo, é negar a mim mesma.


Me detive aqui mais a respeito das mães, porque a responsabilidade sobre questões relacionadas à maternidade ainda recaem mais sobre as mulheres. Mas também é preciso falar sobre paternidade no ambiente de trabalho.


Por fim, acredito que é possível chegar numa relação ganha-ganha. Já há iniciativas nesse sentido tanto em em start ups, quanto em grandes empresas: berçário no local de trabalho, horário flexível, home office, apoio à amamentação exclusiva e treinamentos que promovem a conscientização a respeito do tema. Isso traz esperança. A abertura, por si só, à discussão sobre o assunto, já é um bom caminho para dar início a um ambiente corporativo cada vez mais inclusivo à maternidade, em que mães se libertem do medo de serem quem são e possam colocar à disposição das empresas toda a potência e capacidades vindas dessa incrível fase da vida de cada mulher.






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